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Ester reclama que não tem nada de bom para assistir na TV depois de Diego assinar o quinto streaming para fazer a menina feliz. Diego pensa numa forma mais educada de dizer que tem gente que quer o cu e ainda quer raspado.

— Hoje em dia vocês crianças têm tudo de mão beijada, no meu tempo não era assim não.
— Não tinham inventado a televisão quando você nasceu?
— Tinham, né.
— Já existia sorvete?
— Já, Ester.
— As crianças tinham que trabalhar que nem adulto?
— Não…
— Hum.
— Criança via o que tava passando na TV, não podia escolher. Não existia wifi na casa das pessoas.
— Não é tão ruim assim.
— Nem pix! Ninguém fazia pix.
— Dá pra viver sem pix.
— Não tinha iFood, tá? A gente tinha que ligar pra pizzaria.
— Mas era você criança que ligava?
— Não…
— Podia ser pior então.
— …
— …
— Tinha rinha de criança.
— Hã?
— Isso mesmo. Cada família tinha que escolher um dos filhos pra lutar na arena, ninguém voltava.
— Mas como você e meu pai estão vivos então?
— Você nunca ouviu falar do seu tio Marcelino, né?
— Eu não tenho um tio Marcelino.
— Pois é, você tinha.
— E quem vencia ganhava o quê?
— Um saquinho de jujuba. Mas, assim que o Lula foi eleito, o PT achou melhor só vender no mercado mesmo. Mais prático, né.
— Meu Deus.
— Já te contei que se arrancava os dentes das crianças todos de uma vez? Já ia cair tudo mesmo, né.



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De: administracao@[censurado]
Para: diegojamaisdiogo@[censurado]
Assunto: RE: RE: CRECHE “TODO DIA SAI DE CASA”

Sr. Diego, compreendemos que “foi inevitável preencher essa demanda do mercado” e que não é culpa sua ter tanta gente assim “jogando dinheiro para o alto”, mas preciso que o senhor entenda que estamos falando com muita seriedade quando afirmamos que recebemos denúncias graves sobre um suposto esquema de estelionato envolvendo a creche para bebês reborn funcionando no seu apartamento. 

Tudo bem que o senhor alega ser “um profissional extremamente qualificado, gabaritado por ser babá em tempo integral por um longo período”, mas a sua equipe de trabalho não são… menores de idade? A Professora Ester que cuida da alfabetização dos bebês reborn não é uma criança? O Doutor Gabriel não é seu sobrinho mais novo? Sr. Diego, pelo amor de Deus, como o Chef Miguel cria uma dieta saudável e balanceada para os filhos das clientes se ele tem apenas seis anos? 

Será uma lástima, como o senhor alega, “deixar sem rede de apoio as mãezinhas reborn que precisam sair para trabalhar” e arcaremos com esse pesar em nossos corações, mas a administração do condomínio recomenda que o senhor desfaça esse empreendimento o mais rápido possível. Atenciosamente.


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Já passa de meio-dia no domingo, e Miguel e Ester observam Diego apagado no sofá:

— Acho que meu tio não tá bem, Ester.
— Tá sim, é que ele viu Deus ontem.
— Viu mesmo?
— Ele que disse.
— E como foi?
— Ele viu e ficou assim.
— Acamado?
— Atordoado.
— Gay adora inventar moda.
— Foi muita emoção, Miguel.
— Acho que não quero ver Deus.
— Tem certeza? Tem foto.
— Cadê?
Ester abre a galeria no celular de Diego.
— Deus é uma mulher, Ester?
— Parece que sim. Agora que a gente tá vendo faz até mais sentido.
— Deus tem um nariz enorme.
— E um vestido vermelho.
— A gente vai na igreja todo domingo e Deus nunca foi lá, aí meu tio que nem ora pra dormir sai pra passear e vê Deus? Onde fica essa igreja que ele foi?
Mas é Diego quem responde, ainda de olhos fechados:
— Copacabana à céu aberto.
E as crianças repetem:
— Gay adora inventar moda.


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