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É isso, gente, 2022 acabou. Todo mundo largando os livros! Mão pra cima! Quem não leu não lê mais. Se até agora essa leitura aí não deslanchou, não vai ser nos últimos segundos do ano que vai rolar, quando nossa mente se transforma em geleca à espera de um recomeço. Eu geralmente espero o ano acabar para fazer minha lista de Melhores Livros do Ano, porque nunca se sabe se o livro perfeito vai aparecer, mas esse ano eu sei. Chega. Vamos parar de se iludir.


Em 2022 eu li 42 histórias, entre romances, contos e novelas. 3 a mais que no ano passado! Do total, 30 foram livros nacionais e eu me orgulho demais disso, até porque não fiz esforço nenhum pra que isso acontecesse. Simplesmente li o que quis, o que tinha a ver comigo. Foram bem poucos os livros que não gostei, e isso deveria ter tornado meu trabalho aqui muito difícil, mas esse também foi um ano de poucas paixões literárias. Eu de fato gostei de muitas histórias, mas AMAR MESMO foram meia dúzia, e é essa meia dúzia que quero compartilhar com vocês.

Quem me acompanha em outras redes sociais vai ter pouquíssimas surpresas, porque quando eu AMO um livro eu falo dele até cansar, mas, vamos lá, todo mundo anotando pra ser feliz em 2023.

Em ordem cronológica de leitura, VAMOS AOS MELHORES DO ANO!

(Ah! Todos os links pra Amazon nesse texto são do programa de afiliados, o que significa que eu ganho comissão se vocês comprarem qualquer coisa através deles)

NOSSO LUGAR ENTRE COMETAS (FERNANDA NIA)

Eu paguei muita língua com esse livro porque vivo dizendo que ficção adolescente não me toca mais. Bom, parece que EU MENTI. Nessa história, 3 adolescentes anseiam pelo autógrafo da autora internacional favorita deles num evento gigante estilo Bienal do Livro. Só quem já tentou pegar o autógrafo de uma Cassandra Clare, Colleen Hoover, John Green da vida sabe o CAOS que é. Apesar dos planos mirabolantes, esse livro é carregado inteirinho pelos protagonistas e seus dramas, conflitos e personalidades peculiares. Claro que eu amei porque esse livro também é uma comédia, com piadas muito bem escritas. Sério, gente, O PRAZER de ler piadas tão bem articuladas. Eu chorei de rir, chorei de emoção, gritei de tanta fofura. Eu indico muito pra quem ama histórias sobre amor aos livros. Confesso que, mesmo sendo um leitor assíduo, eu acho esse tema super cafona, mas aqui em Nosso Lugar Entre Cometas eu tomei um safanão na cara que só uma história boa poderia me dar. Bem feito.

A ESTRADA INFINITA (DENYS SCHMITT)

E lá fui eu ler mais uma ficção adolescente porque claramente já tinha perdido todo o controle da minha vida. Gente. Não é só a capa que é de milhões. Esse novelinha é bonita por dentro. Dois meninos precisam defender uma estrada no Rio Grande do Sul, mas eles fazem isso de um jeito tão poético. E eu nem sou fã de poesia. É sensível, fofo, divertido. E o que eu mais gosto é que o livro é simplesmente econômico. Não é aquela poesia voa voa andorinha voa e vai buscar eu ser que usa 5 linhas pra descrever uma árvore. A Estrada Infinita não desperdiça palavras, não desperdiça frases nem tem cenas em vão. Tudo está ali por algum motivo e os diálogos são retomados nos momentos certos, nada fica para trás. Esse aqui eu realmente indico pra todo mundo, são 68 páginas universais.

TODAS AS MENTIRAS QUE EU NUNCA QUIS CONTAR (ARIEL F. HITZ)

Da lista inteira, esse é o único livro que foi de fato lançado em 2022, para vocês verem como estou ligadinho com as tendências. Eu sinceramente não sei bem o que fui fazer no Tiktok. Vocês sabem que eu amo personagens LGBT+ adultos vivendo dramas familiares, e esse aqui entrega demais. Paulo é filho de um serial killer que já está na cadeia, mas sua vida é afetada quando seu pai se mata na prisão. A imprensa vai com tudo pra cima de Paulo, ressuscitando os boatos infundados de que Paulo colaborava com o pai nos assassinatos. Tudo ainda é mais dolorido porque os jornalistas não respeitam o fato de Paulo ser um homem trans. Sério, gente, eu nunca tinha parado para pensar em como vive a família de um serial killer. O livro é poético, sensível e merecia estar em todas as livrarias do Brasil.

PIRANESI (SUSANNA CLARKE)

Único internacional da lista, esse livro foi uma gratíssima surpresa. A capa não diz nada. A sinopse também não. Eu achava que era a história de um fauno, sei lá, uma vibe meio As Crônicas de Nárnia. Eu mal sei dizer se esse livro é realmente uma fantasia. A maioria das pessoas diz que sim, mas eu acho que discordo. Piranesi tem um suspense tão poderoso que é um prazer virar as páginas enquanto ele se desenrola e a fantasia vai assumindo contornos que a gente nunca imaginou. É a história de um homem - 100% humano, 0% fauno - que vive sozinho num mundo peculiar e se dedica a documentá-lo. As coisas começam a ficar estranhas quando eventos e elementos surgem nesse mundo e parecem não fazer sentido com tudo o que ele já conhecia. Eu acho que fãs de fantasia se frustram um pouquinho. Mas o livro dá um show para fãs de um bom suspense. A edição física é LINDÍSSIMA.

A MARIANA ERRADA (JULIA BRAGA)

Gente, é isso, eu amo ficções adolescentes, essa é a verdade. Eu fico ligeiramente incomodado quando falam que YA de romance é "livro bobinho" porque esse aqui é um livro de humor finíssimo. O quanto eu ri com a rivalidade dessas duas! Além disso, as piadas e as referências estão todas onde deveriam estar. Nesse livro, duas meninas, arqui-inimigas uma da outra, são algemadas por engano numa festa junina. Lógico que é um romance, graças a Deus. A Mariana Errada acerta em tantos pontos que já teve seus direitos comprados para virar filme. Ansioso pra ver na TV!

***

Hora de distribuir os troféus dessa newsletter e vai ter bicampeonato, gente. NÃO HÁ COMO eu não entregar o troféu de PESSOA DO ANO novamente pro Vitor Martins. Reizinho pra sempre dominando nossos corações. 

Eu acabei de ler esses dias Se a casa 8 falasse, um livro onde uma casa muito bem-humorada narra a vida dos moradores, que, além de ser divertido, FOI FINALISTA DO JABUTI. SIM. UM LIVRO YA NO JABUTI. UM LIVRO LGBT+. JOVEM. NO FUCKING PRÊMIO JABUTI. Eu nunca imaginei que essa possibilidade existisse. Eu venho de uma realidade, de uma bolha de escritores, em que nossos livros sempre aparecem nas votações de, sei lá, da revista Capricho, mas nunca na lista dos indicados aos prêmios mais badalados do meio literário. O JABUTI, GENTE. O Vitor foi lá e fez. Eu mal tenho palavras. Isso abre porta pra tanta gente tentar também! E quem sabe até vencer. Se a casa 8 falasse não chegou a levar o prêmio, mas todo mundo sabe que ser finalista do Jabuti já é sinônimo de vencer na vida. ORGULHO DEMAIS!

***

Agora, gente, o livro do ano. Eu já indiquei esse livro tantas vezes desde que o li em abril que é impossível eu não me repetir.

NINGUÉM MORRE SEM SER ANUNCIADO (PAULA GOMES)

Caramba, Paula Gomes INVENTOU a escrita criativa, não é possível. Eu nunca nunca nunca li um livro que seja como esse, simplesmente não existe outro livro que eu tenha lido que eu possa dizer "Nossa, faz parzinho com aquele da Paula Gomes". Não tem. No contexto do livro, as pessoas mais ou menos sabem como/quando vão morrer, existe um sistema que simplesmente te informa. A protagonista sabe que em breve vai morrer com uma machadada na cabeça (!!!) e o livro mostra como essa informação molda toda a vida e os relacionamentos que Ceci mantém. Família, amigos, trabalho. Seria uma história trágica se não fosse uma comédia HILÁRIA. E não é só o conteúdo, mas o jeito que a história é escrita, o formato peculiar. Lembro que resolvi ler esse livro porque vi uma resenha dizendo que era uma mistura de Fleabag com Laurinha Lero. Não mentiu. Mas o que eu encontrei foi muito melhor do que a mistura disso com aquilo. "Ninguém morre sem ser anunciado" me causou aquele sentimento de novidade que raramente livros me causam.

De fato, não é um livro pra todo mundo. Já indiquei para pessoas que amaram, mas também teve gente que não conseguiu chegar ao final Meus pêsames, fracassadas kkkk. Então vá de coração aberto porque pode ser uma experiência literária incrível!

***

É isso, gente! Quem é de Skoob pode conferir a lista completa dos livros que li esse ano e aqui no site eu também mantenho uma lista com os últimos 12 livros que eu li e amei. Pra quem quiser mais indicações, tem os melhores de 2021 aqui.

Já conhecia algum dos livros da lista? O que você tem para me indicar para 2023 que vai me fazer feliz? Só responder essa newsletter como um e-mail comum.

Feliz ano novo, gente!

Até breve :)


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Eu sou introvertido.

Confesso que eu sempre soube, até porque não tinha outra opção. Eu ADORO ficar sozinho, e às vezes apenas um guindaste consegue me tirar de casa. Eu não "fico em casa", eu hiberno. Lugares com muita gente me cansam. Fico todo atrapalhado se preciso falar em público ou conhecer gente nova sem ter me preparado antes. Às vezes acho que virei escritor porque boa parte do meu trabalho é ficar conversando apenas com as vozes da minha cabeça.


Outro dia eu estava dizendo que foi uma grande surpresa eu descobrir que gosto de gravar tiktoks e reels, porque, né. Mas agora, pensando melhor, vejo que não tem nada mais introvertido do que ficar falando sozinho em casa, seja para uma câmera ou para as paredes. Não importa que eu estou aparecendo no celular de milhares de pessoas desconhecidas, que meus tweets vão a lugares que eu nem sabia que existiam, que meu livro chegue em cidades nas quais nunca pisei. Não estou vendo a cara de ninguém. Essas pessoas não estão aqui. Se estivessem, eu com certeza não escreveria nenhuma linha. Eu mando meu marido SUMIR quando quero gravar uma piada de humor duvidoso para o Tiktok.

Eu também pensaria que um ser humano com essa configuração teria dificuldade em interagir socialmente e cultivar amizades. Bom, ele tem mesmo. Eu tenho. Mas a questão é que, por ser introvertido, eu também penso demais e valorizo CADA PESSOA LEGAL QUE ENTRA NA MINHA VIDA. Justamente porque, pra começo de conversa, já foi dificílimo essa pessoa entrar.

Eu odeio perder pessoas.

Não estou falando de morte, embora seja mesmo horrível quando nossos amigos vão de arrasta pra cima, porque a morte na maioria das vezes é inevitável. Está além do nosso controle. Quando uma pessoa querida morre, o que nos consola é ficar grato pelo tempo que passamos juntos. A morte é compreensível. É, no mínimo, aceitável. A derrota para mim é quando perdemos pessoas que ainda estão vivas.

Vamos deixar para lá também as pessoas horríveis. As que pareciam amigas e deixaram de ser, as que nos magoaram de uma forma irreversível, essas precisam ir com Deus mesmo. A dor que eu sinto é quando pessoas que a gente gosta, pessoas comprovadamente legais, que fazem bem pra nossa saúde mental, nossa fauna e flora, pessoas que acima de tudo a gente sabe que GOSTAM DA GENTE, a dor é quando esse tipo de pessoa simplesmente some da nossa vida.

Assim, por qualquer motivo.

Usam muito a frase "A vida aconteceu". Por que vocês pararam de se falar? Não sei, a vida aconteceu. Ela foi indo mais para lá, eu fui vindo mais para cá. Um dia a gente se desencontrou de vez e estamos nisso. Nunca mais vi.

Você provavelmente sabe do que eu estou falando. Cadê aquela sua melhor amiga? E aquele cara que por um período da vida vocês conversavam horrores e trocavam confidências e agora você nem sabe direito se está vivo ou morto? E aquela pessoa que você conheceu, sei lá, na escola, na faculdade, que parecia ser da sua família e agora é só um @ no Instagram com o qual você nunca mais conversou além da troca de likes?


Não rolou uma briga, um desentendimento, não existe um ranço nem nada. Um dia você por acaso deixou para lá, no outro também, a pessoa também não veio atrás e ficou nisso. A vida aconteceu. Eu acabei de falar que a morte é inevitável e sei que amizades morrem, mas eu não aceito quando elas morrem assim.

Tenho pavor dessa vida que "acontece". Todo mundo tem uma vida, e uma característica dessas vidas é que de fato elas estão sempre acontecendo. Eu enquanto pessoa que pensa demais não consigo deixar meus amigos nas mãos disso. VOU PERDER UMA PESSOA MARAVILHOSA POR NADA??? Eu entendo desinteresse, entendo que as pessoas mudam, a descoberta de que na verdade vocês nunca foram tão compatíveis assim, mas existem pessoas incríveis que simplesmente saíram da nossa vida e a gente mal percebeu. Porque esquecemos de cultivar a amizade. Não por maldade, por descuido mesmo. Ou por ser impossível regar tantas amizades ao mesmo tempo, por algumas pessoas serem naturalmente mais presentes que outras ou por uns exigirem mais atenção.

O agravante de ser introvertido é que é muito fácil deixar as pessoas para lá.

Eu não tenho energia para ficar em contato o tempo todo. Eu não faço visitas com frequência, também não sou muito de chamar pessoas para minha casa. A verdade é que eu gosto de sair, mas quando estou em casa parece que esqueço disso. Eu adoro a minha própria companhia. É muito difícil eu sentir saudades de alguém. Aí é que mora o perigo. Quando eu pisco, passou 6 meses e esqueci o rosto de alguma amiga querida.

Alguns acham exagero da minha parte, mas óbvio que fiz uma lista. De amigos. De pessoas que eu gosto. Tem uns anos já. Todo mês eu vou lá e sorteio gente legal que não vejo há meses quando quero sair e ver o mundo. Pronto, tá todo mundo vivo, bonito e feliz comigo. Vamos para os próximos. O efeito colateral é que eu custo a perder gente. Demoro um ano para rodar a lista toda.

Meu marido fica apavorado com meus métodos robóticos de cultivar minhas amizades, mas nunca me apresentaram um jeito melhor. Arthur fica "Pra que isso??? É só marcar quando tiver vontade!". E quando eu tenho vontade, gente? Minha vontade é transformar minha casa num santuário e, quando a hora chegar, num jazigo.


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Em todo ano de eleições presidenciais, eu cogito ir atrás de terapia.

Não sou a pessoa mais sensata do mundo e confesso que meu tico e teco conversam de formas misteriosas, mas eu sempre dou um jeito de resolver meus problemas. Eu sou muito bom nisso: desenrolar meus conflitos internos, entender meus sentimentos, me autopropor planos de ação... Sei que tem coisas que só uma boa terapia poderia fazer por mim, mas, enquanto eu acho que estou indo bem, prefiro usar meu tempo e dinheiro em outras coisas. Até aí tudo bem.

Mas chegam as eleições e fico todo quebrado.


Falha minha, mas eu nunca tinha prestado atenção em política antes de 2018. Me pergunte qualquer coisa dentro desse tema que aconteceu há mais de 5 anos e eu simplesmente não sei. Não lembro. Como se eu nem fosse brasileiro desde que nasci. Como se não fosse importante. Como se os direitos e o acesso a políticas públicas sempre estivessem por aqui e fossem durar para sempre.

Não sei dizer bem o que rolou em 2018, mas de repente só dava eleições nas redes sociais. Eu nunca tinha ouvido falar de Bolsonaro e gostaria de ter continuado assim. Não foi possível. Inclusive, essa deve ter sido uma das frases que mais repeti em 2018: não é possível. Porque, quanto mais eu ficava sabendo quem era esse homem, menos achava provável que alguém assim poderia vencer uma eleição. Não falava nada com nada, quando abria a boca era melhor ter ficado quieto, produzia provas contra si mesmo cinquenta vezes por segundo, ofendia todo mundo, como se ele se esforçasse pra isso. Eu estava acostumado ao senso comum de que politico é tudo safado, ladrão, malandro, mas... biruta? A vitória dele foi um baque pra mim.

Meus amigos evangélicos e colegas de trabalho comemoraram.


Eu sou muito fraco pra isso de polarização. Odeio ter que odiar pessoas. Acho que essa lerdeza vem dos meus tempos de igreja, quando eu lia a Bíblia de cabo a rabo pra aprender a ser mais parecido com Jesus o mais rápido possível. Um horror, não recomendo. Nunca me recuperei. Estou sempre querendo ver o outro lado. Ela te respondeu atravessado? Calma, amiga, ela deve estar tendo um dia ruim. O vizinho te xingou? Deve ter algum motivo para ele agir assim, vamos conversar. Sua esposa deu dois tiros no senhor? Mas ela não atirou pra matar, né, temos que considerar isso. Eles estão votando em alguém que aparentemente quer que eu tenha apenas o direito de respirar e mesmo esse talvez ele quer me tirar já que tentou me matar de fome, doença e desemprego? Talvez eles não estejam entendendo...

Às vezes eu acho que foi por causa de gente bunda mole que nem eu que o nazismo comeu solto na Alemanha.

E é por isso que eu passo mal todo mês de Outubro, de 4 em 4 anos. Não é que eu esteja em cima do muro. Deus me livre votar em Biroliro, faço o L até com o cu se me pedirem. Mas eu sempre fico tentando entender e relevar as pessoas que eu gosto que admiram o desgoverno. São quase objetos de estudo pra mim.


Porque, assim, NÃO FAZ SENTIDO NENHUM. Brasil no mapa da fome, desemprego mais alto do que nunca, entrar no mercado com 100 reais e sair só com uma margarina Doriana e uma dúzia de ovos embaixo do braço, pelo amor de Deus. A pandemia, gente. A CLOROQUINA. Não é nem piada dizer que a gente sobreviveu a esses 4 anos, porque teve gente que realmente morreu. Então, se tudo é tão óbvio assim, como que tem gente que apoia?

Outro dia aí eu li o livro Dez argumentos para você deletar AGORA suas redes sociais e, apesar dele não ter conseguido que eu deletasse nem 1 (uma) unidade de rede social da minha vida, teve uma coisa que li nele que eu nunca mais esqueci. Os algoritmos por livre e espontânea vontade criam bolhas tão diferentes e isoladas umas das outras que os fatos que valem nessas bolhas acabam sendo totalmente opostos. Nem quem criou os algoritmos sabe por que eles fazem isso, mas eles fazem. Significa que o Instagram, por exemplo, me mostra um mundo de coisas, mas mostra pro meu amigo evangélico o mundo invertido. Tudo é baseado no ódio, que é a emoção que mais engaja nas redes sociais (já sabíamos disso, né), então pra mim aparecem as coisas MAIS HORRENDAS que as pessoas X fizeram, sejam elas falsas ou verdadeiras, enquanto pro meu amigo só dá gente Y tocando o terror. Se eu paro pra conversar com ele sobre gente X e Y, não vamos nos entender, porque já fomos expostos a uma visão frequente desses "fatos".

Isso sou eu novamente querendo entender o outro lado. Mas graças a Deus também chegando à conclusão de que NÃO ADIANTA CONVERSAR com gente doida.

Eu tento muito me guiar pelos fatos. Tenho muito medo de eu ser a pessoa doida da história. É muito fácil achar que estamos certos o tempo todo, mas eu costumo reavaliar minhas convicções com frequência. Eu particularmente até gosto de entrar nas discussões já achando que estou errado, pra que outros me convençam. Mas dessa vez é diferente. Eu vivi isso. Eu li as notícias, as atuações constrangedoras do presidente, o total descaso com a pandemia, os preços subindo diariamente. Eu vi isso tudo porque dessa vez eu estava prestando atenção. Mas e quem não estava?

Droga, fiz de novo.

Eu acho que eu não sou a pessoa mais indicada pra estar ali na frente da guerra, sabe. Quem vai dar paulada, queimar carro, descer bolsominion na bicuda. Me falta personalidade. Por mais que eu realmente acredite nisso de ouvir o outro lado, eu imploro para que alguém me dê dois tapas na cara se eu ousar abrir a boca pra dizer isso novamente. E eu tô avisando porque eu sei que vou falar. Me mantenham em cativeiro, só me soltem pra votar no Lula no dia 30. NÃO OUÇAM NADA QUE EU DISSER. Não é o momento. Façam o que precisa ser feito. Não é a hora de gente galera agora, depois a gente resolve isso.

Porque eu acho que já entendi que essa dinâmica da empatia só funciona se o outro lado estiver com essa mesma abordagem. Do contrário, enquanto estou aqui dando terceiras chances, eles estão tomando o Brasil, fazendo atrocidade atrás de atrocidade. Acho triste, mas de fato nunca fizeram revolução com flores. Aquele princípio lá de que não dá para ser tolerante com intolerantes.

Eu só sou fraco. Reconhecer é o primeiro passo, eu acho. Vou conversar isso com a psicóloga.


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Assim que a pandemia começou, fui morar na casa do Arthur. Éramos apenas namorados, mas, como ninguém sabia direito como a covid funcionava, achamos perigoso ficar transitando entre as casas. Claro que era temporário, fui só pra ficar alguns dias, talvez algumas semanas. Minha casa, minhas roommates, tava tudo lá me esperando voltar. Nunca mais voltei. Os dias viraram semanas que viraram meses que viraram uma aliança no meu dedo.


Já comentei aqui que casar não mudou muita coisa na minha vida, porque já morávamos juntos, né? Que diferença fazia uma certidão? Era meu namorado, virou meu marido, mas eu nem tive pra quem contar essa notícia pessoalmente, porque ficamos 100% isolados. Foram uns seis ou sete meses sem sair de casa depois do meu casamento. Por mim tudo bem, eu sou muito paciente.

Só com as vacinas no braço que a gente decidiu botar a cara na rua. E aí, sinceramente, estava tudo igual. Quase tudo. Eu estava diferente. Meu estado civil. Confesso que eu nem lembrava que, para a maioria das pessoas, casar é um grande passo.

Mas o ponto é que eu ainda não sei me comportar enquanto casal.

Sinto que, ao invés de estar lá vivendo muito feliz minha lua-de-mel entre quatro paredes, deveria estar estudando como minha vida seria no mundo real. Não sei se me acerto agora. Toda vez que eu saio de casa, eu preciso lembrar que sou MARIDO de alguém. Acho muito fácil ser marido dentro de casa, no isolamento foi. Mas ao ar livre eu vivo parando para pensar.

Chega a ser engraçado quando um amigo ou amiga me chama pra sair já esperando que meu marido vá comigo. Arthur que me perdoe, mas às vezes nem passou pela minha cabeça levar ele, já que quem chamou não o citou. Aí eu chego lá e a pessoa "Cadê o Arthur?????". Sei lá, gente, ficou em casa?

Já passei por isso quando solteiro, mas do outro lado. Eu chamava uma amiga para um rolê, doido para abrir meu coração pra ela e desabafar sobre mil coisas, daí na hora me aparecia ela e o namorado/marido. Eu metia um sorriso no rosto, mas por dentro ficava MEU ANJO, POR QUE VOCÊ TÁ AQUI? Por isso evito levar Arthur de surpresa a menos que a pessoa peça por ele. Mas também me cansa tentar adivinhar.

Eu vendo minha amiga chegando com um boy pro nosso date

Ando fazendo uns combinados aqui em casa: tem evento que eu QUERO que ele vá, daí pergunto pra quem me chamou se ele pode ir comigo. Tem rolê que ele PODE ir se quiser, geralmente passeios em grupo que já vai um monte de casal mesmo. Mas tem coisa que eu PREFIRO ir sozinho, porque acho que ele vai ficar deslocado ou eu apenas quero um tempo só pra mim. A gente já mora junto, me parece lógico. Tem evento que ele simplesmente não quer ir.

Rindo que aparentemente eu odeio meu marido.

Eu acho incrível como que, para a maioria das pessoas, esse drama nem existe. Elas simplesmente vão juntas ou não vão. Um tempo atrás, viajei com meus amigos para outra cidade, e na hora de escolher os assentos no ônibus entrei em parafuso porque não sabia com quem sentar. Com meu marido era a resposta mais óbvia, mas sempre? PELO RESTO DA MINHA VIDA, eu vou ter que sentar ao lado dele no ônibus? Me pergunto se todo mundo espera isso de uma pessoa casada, se é automático. Eu NUNCA MAIS vou poder viajar ao lado da minha melhor amiga, por exemplo, se meu marido estiver presente?

Isso não é tipo uma pessoa que se diz fã de rock só poder ouvir rock dali pra frente? Nada de pagode ou pop, apenas rock. CALA BOCA DESGRAÇADA VOCÊ É ROCKEIRA. Quem inventou isso, sabe?

É verdade que, na grande maioria das vezes, eu quero a companhia do meu marido. Já dei umas de doido, sentei com outras pessoas e me arrependi porque com ele seria mais legal. Se eu puder escolher apenas uma pessoa para me acompanhar, é difícil alguém bater o homem que eu mais amo no mundo. Mas também não é impossível, eu acho. Anda bem popular o discurso de que há amigos certos para os momentos certos: tem amigo que é excelente para viajar com a gente, mas é péssimo em dar conselhos. Tem os amigos de bar, os de cinema, os de trilha, os de farra, os de tomar um café. Nenhum amigo precisa ser bom em tudo e acho que por mim tudo bem. Então, por que quando casamos, faria sentido levar o cônjuge para todo canto? O SEU MARIDO SE GARANTE? O meu talvez, mas eu com certeza não. Já avisei que, se um dia Arthur participar daqueles programas de perguntas & respostas na TV que ele precisa ter um ajudante em casa procurando as respostas no Google, esse ajudante jamais deve ser eu, pois sou burro e lerdo. Ele tem amigos muito mais capazes. Me chame apenas para torcer e ajudar a gastar o dinheiro do prêmio. Na minha cabeça, faz todo sentido.

Arthur não dá a mínima. Risos. 

Diz que eu penso demais, o que não é nenhuma novidade. É só que eu não consigo parar de ver essas regrinhas invisíveis do casamento. Nunca imaginei que seria um ato transgressor sentar ao lado de uma amiga.


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Oi, gente!

Fui convidado para participar da FLIPOP 2022 com Gay de Família!


Vou participar de uma mesa sobre "Finais felizes queer", debatendo a importância de histórias fofas e divertidas para membros da comunidade LGBT+. Vou estar acompanhando de Clara Alves, rainha do YA nacional, Thati Machado, escritora e editora que trouxe histórias com muita representatividade para o mundo e Felipe Cabral, autor de O Primeiro Beijo de Romeu, momento histórico que virou livro.

A mesa é no dia 10/09, um sábado, às 18h45. A FLIPOP acontece em São Paulo e os ingressos estão à venda aqui.

Vai ser minha primeira sessão de autógrafo!!! Quem for na FLIPOP, vai poder receber Gay de Família antes de todo mundo. E autografado!

Nos vemos lá :)


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Oi, pessoal!

Nem demorou E JÁ CHEGOU. É isso mesmo que o título disse! GAY DE FAMÍLIA ESTÁ EM PRÉ-VENDA!!! Meu livro já pode ser de fato comprado!


E aqui está a capa completa!


Arte da Paula Cruz! Eu nem sei como REAGIR a esse título perfeito, esse GAY bem grande entrando na casa de todo mundo e nas livrarias, eu me sinto num momento histórico. E, sim, DIEGO E AS CRIANÇAS NA PISCINA! Uma cena completamente inédita para quem leu Gay de Família na versão independente. Vai ter muito conteúdo novo. O livro anterior tinha 80 páginas, esse tem 272, então aguardem por tudo.

SINOPSE

Diego espera tudo de ruim dos próprios parentes, mas tudo mesmo. Que o pai tenha uma segunda família. Que a mãe comande um esquema de tráfico humano. Que o irmão lave dinheiro. Por serem versados em todos os crimes do manual da família tóxica, Diego decidiu ser gay bem longe deles.

E tudo vai muitíssimo bem, obrigado.

Porém, às vésperas de uma viagem aguardadíssima com amigos, seu irmão aparece implorando por um favor: que Diego seja babá dos três sobrinhos por um final de semana, crianças com as quais ele nunca conviveu. De olho na grana que o irmão promete pagar e acreditando piamente no seu potencial como tio, ele aceita a proposta sem imaginar que os pequenos são, no mínimo, peculiares.

O que a princípio parece moleza, mesmo envolvendo uma gata demoníaca, um amigo imaginário e um porteiro potencialmente sádico, acaba se revelando um desafio quando Diego percebe que terá que revirar seus sentimentos e provar que pode dar conta do recado, sem perder o rebolado que apenas um tio gay é capaz de manter.


Nesse REBOOT, ao invés de ficar apenas uma noite com os sobrinhos, Diego vai ficar um final de semana inteiro. Há novos personagens! Romance! DRAMA! E um milhão de piadas que eu tô torcendo que arranquem gargalhadas de todos vocês.

O livro, por enquanto, pode ser comprado na Amazon (físico e ebook) e no site da Companhia das Letras, mas já já estará no Submarino e nas Americanas também. Comprando na pré-venda, vocês ganham marcadores magnéticos exclusivos e PERFEITOS também, com arte da Paula Cruz. Comprando AGORA, vocês também me ajudam horrores a provar pra editora que livro nacional LGBT+ vende sim.

O lançamento oficial acontece dia 20/09, que é quando os livros comprados na pré-venda serão enviados e quando Gay de Família irá para TODAS as melhores livrarias do Brasil!!!

É isso, gente! Comprem o livro, compartilhem os links nas suas redes sociais e fiquem de olho no meu perfil no Twitter e na editora Paralela no Instagram, porque vai ter muito conteúdo relacionado a Gay de Família até o lançamento.

EU NUNCA FUI TRISTE, GENTE. Torçam por mim!

Até a próxima!


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Existe por aí uma crença fortíssima de que talento é tudo na vida de um artista. Quem tem talento tem tudo. Os talentosos vão bem mais longe. Se você tem algum talento artístico, pode ter certeza que em algum momento alguém vai te descobrir e te transformar num sucesso. Bom, quem entrou pensando em fazer carreira no mundo das artes com esse tipo de pensamento certamente já quebrou a cara. Pensar assim, na verdade, é quase estar fadado ao fracasso.


Talento é importante, mas está longe de ser tudo.

Por favor, gente, muitos acreditam que talento é sinônimo de sucesso, mas nós sabemos que não é bem assim. Há aos montes exemplos que fogem a essa regra. Não é difícil ver um livro mal escrito na lista dos Mais Vendidos. Ou aquele escritor super talentoso com as palavras, mas que ninguém dá a mínima. Todo ano centenas de cantores excelentes são revelados no palco das edições do The Voice, a maioria com vozes que superam as dos técnicos/jurados, mas depois dos programas nunca mais ouvimos falar deles. Já vimos atores horríveis pegando papéis grandes em novelas, enquanto outros atores maravilhosos não conseguem deslanchar a carreira. Isso acontece o tempo todo.

Não vou entrar no mérito de se isso é justo ou não, como deveria ser etc. Isso rende outro texto. O mundo é capitalista, não tem jeito por enquanto, temos que lidar com esse fato. É como as coisas são. 

O que vou destrinchar aqui serve para qualquer área profissional, mas é útil principalmente para as carreiras artísticas. Escritores, atores, cantores, artistas plásticos. Coloco aqui também influenciadores digitais, que não deixam de ser um pouco de tudo. Como sou escritor, a maioria dos meus exemplos estarão atrelados ao mercado editorial, mas aposto que vocês conseguem levar pra área de vocês.

Sempre digo que caí meio de paraquedas no mundo dos livros e só agora, de 1 ano pra cá, estou vendo como as coisas funcionam por dentro. Nem tudo é talento, gente. 

Acredito piamente que toda trajetória de sucesso de um artista está apoiada sobre 7 pilares, digamos assim. 

Você não precisa ser excelente em todos eles, mas quanto mais melhor. Com 2 ou 3 já dá para se garantir. Nenhum pilar é essencial, ainda mais se você dominar os demais. Uma pessoa, mesmo que não tenha muito talento, pode ir muito mais longe que um artista talentoso se dominar os pilares certos. Vamos a eles.


1) TALENTO

Vamos começar pelo óbvio. Talento não é tudo, mas é alguma coisa sim. Confiar no seu taco, na sua arte, já é meio caminho andado. Boa arte tem o poder de tocar pessoas, atrair gente, fazer um ou outro milagre. Praticar sua arte, estudar sua área, se inspirar nos melhores, tudo isso vai contribuir para você se tornar mais talentoso. É verdade, seu talento vai te abrir portas.

O erro é acreditar que seu talento vai fazer tudo por você.


As pessoas só vão perceber seu talento se a sua arte chegar nelas, e é muito difícil fazer isso trancado em casa, sem usar a internet. No contexto de fazer sucesso e construir carreira como artista, as pessoas precisam te ver. Se você não aparece, se ninguém te apresenta, se a sua visibilidade é zero, seu talento é invisível. Não vai te levar muito longe.

É obrigatório ter talento?

Ironicamente, não. Fala sério, todo mundo conhece pelo menos 1 artista que tudo o que faz parece HORRÍVEL e sem conteúdo. Mas tá aí a pessoa fazendo sucesso. Ela provavelmente se apoia nos outros 6 pilares.

(Também precisamos considerar aqui que talento é um conceito muito subjetivo, né? Tem gosto pra tudo. Uma pessoa sem sal pra mim pode ser incrível para outros, etc)


2) ESTRATÉGIA

Estratégia é um pulo do gato muito amplo que pode ser aplicado em várias situações. Em resumo: seja inteligente nas decisões da sua carreira. Não é difícil encontrar pessoas que questionem o talento da Anitta e da Taylor Swift como cantoras, por exemplo. Mas é inegável que as duas são excelentes estrategistas administrando as próprias carreiras. Eu e você conhecemos cantores com vozes muito mais potentes e cheias de possibilidades, mas que não alcançaram nem 10% do sucesso delas.


Estratégia é estudar o mercado da sua arte. Entender o que funciona, o que não funciona, o que está em alta, o que já é passado. Entender quais são os melhores canais para divulgar sua arte, analisar as trajetórias de sucesso de artistas do mesmo nicho que o seu, listar quem são as pessoas que podem te ajudar a ir mais longe, com quem você pode aprender.

Num texto passado, eu contei que tinha escrito um romance gigante para estrear no mercado editorial. Assim que terminei, percebi que o romance não teria muito apelo para que pessoas que não me conhecessem previamente o comprassem. Não ia funcionar. Engavetei. Foi aí que tive a ideia de escrever Gay de Família, uma história rápida de ler com uma premissa muito mais atraente. Se alastrou que nem fogo!

Outro exemplo de estratégia, foi que a mente milionária do Fred do Sem Spoiler teve a ideia de divulgar trechos do livro no Twitter durante a pré-venda. Eu confio muito no meu taco fazendo comédia e realmente achava que meu livro tinha trechos muito bons. Mas nada adianta se só eu sei disso, né. As pessoas precisavam de uma prova de que eu sou bom. Os trechos que o Fred escolheu fizeram muito sucesso! Muita gente comprou o livro só pelo sumário. Depois de ler os trechinhos selecionados, várias pessoas ficaram na expectativa de poder ler aquela história completa.

Sem essas estratégias, eu garanto que minha carreira não teria dado muitos passos. Duvido que eu teria agentes e uma editora incrível. Eu seria o mesmo escritor, com o mesmo nível de talento, mas com uma carreira bem diferente.


3) CONTATOS

O famoso Quem Indica. Gente, sinceramente, se você não tem energia para levantar seus 7 pilares, foque pelo menos nesse. Ter contatos é mágico. Muita gente vê com maus olhos a existência de "panelinhas", de gente que indica amigo para tudo, mas, meus anjos, É ASSIM DESDE QUE O MUNDO É MUNDO. Em qualquer área. 

No meu trabalho formal como desenvolvedor de software, estou há uns 5 anos sendo muito feliz numa empresa cuja vaga só ocupei porque fui indicado por uma amiga que estudou comigo. Me considero um funcionário excelente. Passei por entrevista e uma prova. Mas com certeza foi a indicação dela que deu peso para o meu perfil. Quase tudo na vida funciona assim. Eu indico os livros que mais gostei de ler para os meus amigos. Se vou num restaurante legal, recomendo para outras pessoas. Se trabalho com um profissional gente boa, recomendo também. Se eu vejo uma vaga de trabalho incrível que tem tudo a ver com uma amiga minha, é óbvio que vou pensar primeiro nela do que numa pessoa hipotética mais talentosa do que minha amiga. Por conta disso, é extremamente necessário você ter um bom relacionamento com as pessoas do seu nicho, não importa onde elas estejam na hierarquia.


No meu caso, como escritor, cada contato conta: pessoas que trabalham em editoras, em agências, profissionais freelancers, influenciadores literários, organizadores de eventos, capistas, ilustradores, leitores, arrobas no Twitter, no Instagram, outros escritores... A gente nunca sabe de onde uma oportunidade pode surgir. 

Muita gente acha que ter contatos só vale se você for sobrinho de dona de editora. Ledo engano! Eu fiz vários contatos organizando meus clubes do livro, por exemplo, porque vinha gente de todo canto do mercado editorial. Já tive oportunidades abertas por pessoas que simplesmente conversavam comigo através do meu blog. Se você vai num evento literário, com certeza vai conhecer gente nova e solícita. Participe de eventos online! Cursos, workshops, leituras coletivas, lives, acompanhe o trabalho de pessoas com as quais você sente afinidade. Leia os livros de autores com carreiras de tamanhos variados. Fale com as pessoas. Tire dúvidas, elogie com sinceridade, interaja nas redes sociais. Tudo isso cria relacionamentos que, no momento certo, vão fazer as pessoas lembrarem de você.

A regra de ouro é ser gentil com todo mundo.


4) POTENCIAL DE ATRAIR MULTIDÃO

Eu custei a achar um nome simples para isso, então fiquei na essência mesmo. Pode ser carisma, pode ser identificação, pode ser sua eloquência ou didática, mas, em resumo, é aquela habilidade que uma pessoa tem de criar uma comunidade em torno de si. Literalmente, potencial de atrair multidão.


Até hoje questionam o talento como cantora da Juliette, a vencedora do BBB 21, só que talvez o pilar mais fortalecido dela seja o potencial de atrair multidão. Juliette moveu MILHÕES de pessoas, durante o programa e fora dele. Não importa qual empreitada ela siga na vida artística: na música ela tem fãs, se ela escrever um livro vai vender, se ela começar a gravar vídeos para o Youtube vão bombar, se ela lançar um podcast terá quem ouça. Porque não é necessariamente sobre o talento dela para coisa alguma, é sobre ELA. É o carisma dela, a história dela, que atrai as pessoas.

Entra aqui também o caso dos youtubers Jout Jout e Whindersson Nunes, que começaram com vídeos extremamente simples e ganharam o Brasil. Foi o potencial deles de atraírem multidões.

Inclusive, esse potencial é o que faz muitas autoridades num assunto (pesquisadores, cientistas, profissionais da área etc) reclamarem de gente prestando atenção em influenciadores digitais falando do mesmo assunto. Óbvio que a autoridade consegue trazer a informação correta e embasada, de anos de estudo, enquanto o influenciador tá lá passando um conhecimento raso e às vezes até falho. Mas é o influenciador que tem o carisma, portanto, a atenção das pessoas.

Aliado ao seu talento, construir uma comunidade em torno de si vai alavancar sua carreira. Talvez você seja interessante, engraçado, sei lá, bonito. Se você tem ou pode trabalhar em algo na sua personalidade que pode atrair multidões, dê atenção a isso.

Quando dizem que hoje em dia um artista precisa criar conteúdo sobre sua arte na internet, é sobre o potencial de atrair multidão que estão falando. É a esperança de que uma comunidade se crie ao redor do artista. Isso tem muito valor.


Particularmente, não acho que todo artista seja obrigado a criar conteúdo. Você pode encontrar outras formas de trabalhar seu potencial de atrair multidão ou simplesmente negligenciá-lo, se conseguir se garantir em outros pilares.


5) IDENTIDADE

Um pouquinho diferente do Potencial de Atrair Multidões, a Identidade também é sobre você, mas não sobre sua personalidade. É sobre quem você é no mundo, perante a sociedade. Sobre sua aparência, sua origem, sua raça, sobre você fazer parte ou não de algum grupo minoritário, sobre seus hábitos, sua orientação sexual, sua religião, sua profissão formal etc. Mesmo contra sua vontade, sua Identidade vai ser usada contra e a favor de você em diversos momentos. A ideia é tentar aproveitar as situações favoráveis.

Eu sou homem, branco, magro, gay, assexual, do Sudeste, vim da classe C, profissional de TI, fui criado como cristão... Dentro do capitalismo, todas essas informações acabam se transformando em etiquetas sobre mim. Como se colassem um adesivo na minha testa para me categorizar.


Sou o escritor gay que escreve livros gays para gays lerem. Se me venderem assim, provavelmente vão afastar o público hétero, mas aproximar bastante o público LGBT+. O dia que precisarem de um escritor gay numa coletânea, num podcast ou numa mesa sobre orientação sexual ou literatura gay vão lembrar de mim. Nesses cenários específicos, a minha identidade me favoreceu em relação a artistas hétero, por exemplo. Da mesma forma, poderia me atrapalhar caso a organização fosse conservadora.

Confesso que, num mundo ideal, não deveríamos ter que nos apoiar tanto nas nossas identidades, apenas no nosso talento. Mas o capitalismo descobriu que Identidade vende, que gera uma identificação muito fácil quando temos adesivos colados na testa. Podemos nos aproveitar disso ou renegar completamente, mas é impossível fazer com que outros esqueçam a nossa Identidade.


6) DINHEIRO

Como tudo na vida, quem tem dinheiro já começa na frente no mundo das artes. Em teoria, sucesso não se compra, mas, se com dinheiro você pode erguer bem mais alto seus pilares, então meio que se compra sim. No mínimo, aumentam suas chances.

Com dinheiro você pode turbinar seu Talento estudando nas melhores escolas e cursos. Pode comprar os melhores apetrechos para praticar sua arte. Pode estudar Estratégias de marketing ou contratar alguém para divulgar por você. Dinheiro pode te atrair mais Contatos, te dando acesso a eventos, projetos e círculos sociais que custam caro frequentar.


A capa da versão independente de Gay de Família que todo mundo amou foi na verdade uma segunda capa. A primeira capa custou dez vezes menos. Era bonita, mas bem mais simples, de um jeito que talvez não fosse atrair tanta gente. Mudei em cima da hora, o que só foi possível porque eu já tinha separado um dinheiro para esse tipo de emergência no meu lançamento. Foi uma decisão crucial.


Mais um exemplo: músicas que tocam nas rádios. É tudo pago. Quanto mais você paga, mais semanas sua música fica tocando.

Outro exemplo: quando dizem que a Anitta paga para subir em palcos e programas internacionais. Talvez ela pague mesmo. E, pelo jeito, está valendo a pena.


7) SORTE

Se você ler a biografia ou prestar atenção na história de vida de qualquer artista de sucesso, vai ver que em algum momento aconteceu uma coisa completamente improvável que impulsionou a carreira. 

Uma pessoa poderosíssima que estava passando na esquina e ouviu o artista cantar. Uma seleção para o Big Brother Brasil. Alguém super influente que o artista conheceu numa festa aleatória que ele nem queria ir. Descobriram o nome do artista num lugar que nem o artista sabia que tinham escrito o nome dele lá. Alguém que tropeçou. Se conheceram na prisão. Ouviu a trilha sonora de um filme. Um amigo de um amigo. Um concurso que a gente descobre que existe no último dia de inscrição. É tão improvável, mas de um jeito que acontece o tempo todo.

Acho que é o sonho de todo artista, né, ser descoberto do NADA. Você e seu talento quietinhos quando de repente. A Sorte realmente existe e é um pilar inegável na carreira de muita gente. O problema disso é que não podemos controlar a Sorte. Não dá pra contar com isso. Nunca sabemos como vai acontecer, se é que vai. O negócio é se apresentar. É estar presente quando a Sorte rolar.

É fazer por onde, sabe?

Pra alguém passar na esquina e te ouvir cantar, você precisa cantar. Pra ser selecionado para o BBB, você precisa se inscrever. Pra você ter um amigo de um amigo, você precisa, bom, fazer amigos e deixá-los saber da sua arte. Espalhe seu trabalho, seu talento, sua arte em todos os lugares que você puder, como puder. Isso não garante Sorte, mas aumenta suas chances de ser um sortudo.

***

Entender a influência desses 7 pilares me tranquilizou em vários momentos em que eu me achava um fracasso. Comecei a duvidar do meu talento quando não conseguia alcançar meus objetivos de carreira. A gente fica achando que não fazemos boa arte já que ninguém liga pra gente, que a culpa do nosso fracasso é toda nossa. Porém, as variáveis de uma carreira de sucesso são tantas que não tem como isso ser um veredito sobre nosso talento. Às vezes só não estamos sabendo nos divulgar. Ou não conhecemos as pessoas certas ainda. Não sabemos usar nosso carisma, não entendemos nossa identidade, ainda não tivemos sorte. Às vezes não chegou o momento certo.

Por que aquela pessoa chegou lá e eu não? Analise os pilares dela que você vai entender.


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Acho que todo mundo concorda que ciúme é uma coisa ruim. Tem aquelas pessoas que acham que um pouquinho de ciúme é saudável e até recomendável, mas elas provavelmente cheiram cola e acessam a deep web. Agora aqui pensando rápido, não consigo imaginar vantagem alguma em se corroer por dentro por sentir que sua pessoa amada prefere outros a você. É uma energia muito mal gasta porque não conseguimos transformar em nada que preste, porém, entender que é ruim não faz o ciúme desaparecer magicamente, o que é uma pena.


Vou ignorar casos de violência para evitar pesar o assunto, mas tem essas duas fofocas que acho o ÁPICE do ciúme:

O cara era casado e tinha uma amiga do trabalho com quem ele sempre conversava pelo whatsapp. Acho que existe uma linha muito tênue entre amizade e flerte, e ele e essa amiga estavam sobre essa linha, mas nunca avançaram. Apenas risadas, memes, umas fotos inocentes aqui e ali, nada demais. Mas conversavam todo santo dia, até nos finais de semana e feriados. A mulher dele odiou quando descobriu. O que ela fez? Deu uma de doida e jogou o número da amiga dele pra um monte de pervertido num site qualquer da vida aí. O marido morreu de vergonha, mas cortou o papo com a amiga.

Também teve uma conhecida minha que teve que excluir todos os homens das redes sociais dela quando começou a namorar. Até eu rodei. Quando questionei o motivo, ela disse que o namorado mandou. Fiquei muito chocado. "Você não acha isso meio doentio?". A resposta: "Nah, normal, até porque primeiro eu pedi pra ele excluir todas as mulheres das redes dele".


Uma parte minha ouvindo esses contos de terror fica MEU DEUS, QUE DESGASTE EMOCIONAL, mas a outra... Gente, eu sou uma pessoa que pensa demais e, ainda mais agora que tenho um marido, eu acho que entendo a lógica do ciúme. Tenho que confessar que essas pessoas estão certas em defender os seus. Se vale a pena no fim das contas, já são outros 500.

Porque, pensa, eu pelo menos acho assim, não existe essa coisa de alma gêmea, não existe aquela pessoa única que é perfeita pra você, o amor da sua vida, que, se ela morrer, acabou amor pra você. Pensando na quantidade de pessoas que existem no mundo, NÃO É POSSÍVEL que só tem UMA que pode te fazer feliz. Dito isso, você pode encontrar pessoas para estarem num relacionamento com você quase em qualquer esquina a qualquer momento. O mesmo vale para a pessoa que você ama. Meu marido com certeza conhece centenas de caras mais bonitos do que eu. Alguns mais engraçados, mais legais, outros com mais dinheiro, com mais interesses em comum, com mais todas essas coisinhas que a gente conta num relacionamento. Mas só eu sou a combinação de características que ele escolheu pra namorar e casar com ele. Isso porque, TALVEZ, ele ainda não tenha conhecido alguém que encaixe melhor. E talvez jamais irá conhecer. Poder ser que essa terceira pessoa more na Índia e ele jamais pise lá. Azar o dela.    

Daí dá para entender essas pessoas doidas de ciúme que impedem suas pessoas de conhecerem outras, porque essas outras podem mesmo ser o novo amor da vida do seu amado. Quem sabe? É tudo questão de não permitir esses encontros. Se eu soubesse que a melhor pessoa pro meu marido mora mesmo na Índia, será que eu iria sugerir esse país como destino de uma viagem nossa?

***

Outro dia descobri uma série no streaming da Amazon chamada Soulmates. É dessas que cada episódio é uma história diferente, mas todos giram em torno do mesmo assunto: uma empresa desenvolveu um teste que informa com 100% de precisão quem, no mundo inteiro, é sua alma gêmea. Achei uma delícia, tem de tudo: Romance, terror, aventura, gays a rodo, trisais, mas principalmente DRAMA. Maravilhoso ver quando uma pessoa casada fazia o teste, e dava que a alma gêmea dela obviamente não era o cônjuge. O que a gente faz com uma informação dessa? Larga o marido e vai para o outro lado do planeta? Finge que o teste nunca existiu? Fica se perguntando pro resto da vida como seria viver com sua alma gêmea? Sofri em cada minuto, recomendo.



***

Impedir seu par romântico de conhecer pessoas é uma estratégia que funciona pontualmente e você de fato pode estar garantindo a longevidade do seu relacionamento, mas, gente, o mundo inteiro. O mundo inteiro de gente. Excluiu os homens todos do Instagram, beleza, mas e na vida real? E os colegas de trabalho? E os homens nos ônibus? E os amigos? E o dentista dela? Legal que cortou a amizade do marido com a fulana, mas e todas as outras mulheres do mundo offline e online? Como manter em calçadas diferentes pelo resto da minha vida meu marido e os homens mais bonitos do que eu? 

Alimentar nosso ciúme é um trabalho sem fim, apenas desempregados conseguem.

Eu particularmente acho que não vale o esforço. Pra mim, é mais fácil contar com a sorte. Se meu marido conhecer um cara mais legal, o que eu posso fazer? Parabéns, vá pela sombra.

PS: Esse texto é uma versão revisada e atualizada do que antes foi publicado no meu falecido blog pessoal, o Não Sei Lidar.

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Eu tinha acabado de trabalhar num romance enorme e estava exausto. Mandei para concursos, agências, editoras, todo mundo recusou. Fiquei "Bom, ou eu publico na Amazon por minha própria conta ou jogo no lixo". Mas eu não sou otária de jogar trabalho fora, né. Queria publicar na Amazon, seria minha primeira história escrita de forma profissional. Eu amava a história, só pra constar.

Mas tinha um problema. Alguns, na verdade.


Como eu disse, era um romance enorme, mais de 100 mil palavras, coisa que depois de muito sofrer revisando eu prometi a mim mesmo que jamais faria novamente. Mas agora já tinha feito. Se eu fosse levar essa publicação para frente, ia morrer numa grana com revisor, preparador, diagramador. Quanto mais palavras, mais caro todos os serviços. Além disso, quem compra um romance de 500 páginas ou mais de um desconhecido? Para piorar, meu romance, por sua natureza gigantesca, trata de vários assuntos, possui muitos personagens e acontecimentos. Vários plots. De um jeito que fica difícil resumir o melhor dele numa sinopse curta que chama atenção. Eu sou mestre em desenvolver tramas em que tudo acontece enquanto nada acontece. São apenas as pessoas vivendo a vida delas, e é isso. Eu amo esse tipo de história, mas as sinopses saem tudo assim: "Fulano vive um drama com a família. E no trabalho dele também. E no relacionamento dele aconteceu isso. Ele também tá se descobrindo gay. E quer adotar um cachorro. E inventar um novo sabor de sorvete". Juro, eu amo. Mas QUEM quer ler isso, escrito desse jeito? No meu coração, eu estava sentindo que era o tipo de livro que um escritor lança depois de ter feito muito sucesso com outra coisa. Algo do tipo, bom, eu AMEI aquele outro livro do Felipe, esse daqui parece extremamente desinteressante, mas como foi ele quem escreveu vou dar uma chance. Só assim eu via futuro pro meu livro exaustivo.

Daí eu coloquei na cabeça que precisava estrear na Amazon com algo novo. Eu queria mesmo causar um BOOM, sabe? Chamar atenção, meter o pé na porta, ser visto. Tinha que ser uma história curta para me poupar trabalho, tempo e dinheiro. Tinha que ter uma sinopse concisa que imediatamente capturasse os leitores certos. Tinha que ser uma trama em que eu não deixasse a peteca cair em nenhum momento, que fosse o auge do meu humor. Foi assim que nasceu Gay de Família, a novela, e o resto vocês já sabem.

Não vou ser modesto, meu público amou. Os números não mentem, as avaliações foram ótimas, Gay de Família alavancou minha carreira a um patamar que eu nem sonhava em chegar ainda.

Mas talvez eu tenha ousado demais.

Apenas umas trinta pessoas em todo o planeta Terra devem saber que já publiquei meia dúzia de histórias no Wattpad. Comecei com uma ficção cristã. Jesus aparece no livro e tudo. Acho que peguei o gosto, porque nunca mais parei. Adoro criar histórias simples, mas engraçadinhas, que no fundo, no fundo, possuem uma mensagem escondida, que às vezes é um tanto cafona. Não sei se é uma prática natural ou o mal de todo escritor inexperiente, mas eu colocava muito de mim em todos os meus protagonistas. Escrevi o menino recatado da igreja, o nerdzinho tímido, a menina crente de bom coração, o garoto assexual que só queria fazer o mundo mais feliz, adultos que não tinham tempo para falar palavrão nem para transar... Fico até meio constrangido quando lembro as histórias que narrei antes de Gay de Família. Não porque elas sejam cafonas, isso elas são mesmo e eu amo, mas, caramba, eu estou pelado naquelas páginas. Todo mundo é muito eu. Ou alguém que eu já fui, alguém que sentaria comigo no recreio.

Mas em Gay de Família?

Eu escrevi "Sei que é ridículo achar que um brinquedo vai definir a sexualidade da criança no futuro. Meu pai me encheu de bola de futebol, e tô aí até hoje dando o cu", o que levantou a sobrancelha de alguns leitores.

Mas não satisfeito fui lá e escrevi também "Eu deveria chupar o pau do Ulisses até me dar câimbra na boca", o que foi no mínimo inesperado.


A verdade é que o Diego, o protagonista dessa história escrachada, tem bem pouco a ver comigo na superfície. Sejamos francos, no melhor sentido da palavra, o Diego é uma PUTONA. Eu nem sonho em viver tudo que esse gay já viveu na vida. O Diego é expansivo, extrovertido, por vezes explosivo. Diego fala sem pensar, bota a boca no trombone e se mete em barraco mesmo quando não precisa. Se ele quer dar, ele dá; Se quer chupar, ele chupa; Diego fala palavrão, xinga o irmão, explora as crianças. Eu criei um personagem interesseiro, malandro, fútil e fofoqueiro. Daí que AMEI cada linha disso.

Quando joguei Gay de Família no mundo e vi a história sendo abraçada por leitores, abrindo as portas de uma agência literária e de uma editora, eu soube que tinha acertado. Valeu a pena demais.

Só que em algum momento veio a síndrome do impostor. Ou uma prima dela, sei lá.

***

Com certeza ninguém fez por mal, mas uma vez cheguei num evento literário e me disseram "VOCÊ é o autor de Gay de Família??? Eu esperava, você sabe, um ser humano BEM GAY". Teve um amigo meu que me mandou mensagem esses dias perguntando se eu mesmo que tinha escrito aquilo. Mais de uma vez os leitores dos meus antigos blogs, gente que me acompanha desde o comecinho de tudo, me disseram que amaram meu livro, mas não imaginavam que eu era capaz daquilo. Mas meus parabéns, Felipe.

Por um lado, confesso, me sinto um escritor excelente. Não é essa a magia da ficção? Um bom ator não é aquele que interpreta personagens tão diferentes entre si que a gente até esquece que é a mesma pessoa por trás? Eu vivo dizendo isso: eu sou escritor, gente, meu trabalho é mentir por escrito. Em Gay de Família eu apenas menti muito.

Mas tem essa voz na minha cabeça que às vezes aparece dizendo que eu estou enganando todo mundo.

Você não é assim. Você não fala desse jeito. Você nunca fez isso, nunca fez aquilo, um dia vão descobrir que você é um gay farsante.

Daí que simplesmente minha história mais doida, elaborada pra ser uma novelinha de 6 capítulos, cai no gosto do povo. Quem leu quer mais. Me pedem mais livros no Twitter. Me perguntam quando vem a continuação no Instagram. A editora me sugere transformar Gay de Família num romance, um livro com muitos capítulos e páginas, várias páginas de Diego. Quem sabe uma série de livros. Eu tô aqui que não me aguento.

***

Andei me estranhando dia desses com Gay de Família, a versão final do romance. Fiz até um LEVANTAMENTO de quantas vezes escrevi uma frase que eu teria vergonha de dizer em público. Fiz mesmo, não é piada, esse é o top 10:

41 porra
16 transa
12 puta que pariu
11 cu
9 pau
9 putaria
9 foda
8 puta
7 sexo
5 caralho

Estava aqui pensando que talvez eu me sinta melhor se eu cortar esses números pela metade. Tipo, eu posso fazer isso. Eu sou o escritor. Quem sabe assim eu não entre em combustão imaginando minha mãe e meus conhecidos da igreja lendo o livro. Talvez desse jeito os leitores vão entender que quem escreveu essa história foi um gay básico e cansado de 30 anos.

PORÉM, ao mesmo tempo, eu fico: Mas eu estou com vergonha de quê? O Diego é assim. Existem muitos Diegos por aí e eles são válidos. Com as devidas ressalvas, não há nada de errado em ser como o Diego, em falar como o Diego, em transar com a mesma frequência que o Diego. Se você não tem um amigo Diego, você é o amigo Diego. Tenho vergonha de verem que escrevi um palavrão? Eu sou um homem de 30 anos, porra. Caralho. Boceta. Não sou mais um adolescente cantando os hinos da Harpa Cristã nos cultos de domingo. Ninguém paga as minhas contas. Ninguém pode me deserdar. Quanto mais eu penso a respeito, mas eu acho que é uma vergonha boba. Eu ainda a sinto, ela é real, mas é boba.

É verdade que eu cresci na igreja. Que meu primeiro beijo foi só com 26 anos. Que eu entrei no Tinder e casei com meu primeiro e único encontro. Também é fato que até hoje eu nunca bebi álcool. Que eu não tenho nenhuma aptidão física e mental para encarar um banheirão. Mas o que ninguém esperava é que, ah, meus queridos, eu tenho uma menta muito criativa e pelo visto muito safada também. 

Eu tenho que dar um jeito de me entender com isso.


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Vocês sabem que eu escrevo livros, né? E acho que eu escrevo porque, antes, sempre fui de ler. Tem muita gente que não curte uma boa leitura, e eu entendo a maioria dos motivos, mas livro pra mim sempre foi uma arte muito fácil. Não precisa de um manual de instrução. Você pega o livro e lê. A sua bagagem emocional vai te guiar por um caminho que pode ser diferente do caminho que eu vou percorrer com o mesmo livro, mas em algum lugar você vai chegar. Então, para mim, isso já basta. 


Vale o mesmo para filmes, séries, enfim, narrativas, sabe? Artes desse tipo são autoexplicativas (tirando aqueles filmes ruins que você tem que ir na internet entender o final - ou eu que sou burro?). Você lê, assiste, consome e, se tudo der certo, entende. A arte imediatamente te causa algo. Pode ser algo legal ou desagradável, você pode gostar ou não, mas ela fez o que veio fazer e vida que segue.

Quadros não são assim. Pinturas, esculturas. 

Na maioria das vezes, não contam história nenhuma nem precisam ter significado algum. Eles apenas são. Parece super profundo dizer isso, mas é justamente o motivo pelo qual nunca consegui me conectar com esse tipo de arte. Juro pra vocês, pode ser o romance mais bobo que for, mas um livro sempre está dizendo alguma coisa. A pessoa que escreveu pode até nem ter noção, mas o livro está falando. Na construção dos personagens, no rumo da história, nos diálogos, no desfecho. O leitor pode até achar que está passando ileso por um livro, mas ledo engano. Agora, por uma pintura? Às vezes aquela cesta de frutas é só uma cesta de frutas mesmo. Aquela maçã não significa a derrocada do capitalismo. A banana não é a depressão do pintor. Nossa, por que será que a artista fulana pintou o céu de verde? Uma crítica ao status quo? Não, gente, acabou a tinta azul naquele dia. É tipo isso. Mas aí é que tá: não é sempre assim. Há várias artes plásticas cheias de críticas e dores e dramas e histórias por trás, mas às vezes é simplesmente muito difícil diferenciar, ainda mais quando você começa a entrar na arte contemporânea.

Isso tudo só para dizer que até então eu nunca tinha apreciado um quadro de verdade. Minha sensibilidade artística sempre foi dizer "Nossa, esse rosa combinou com o azul, amei", mas só. Já vi gente chorando na frente de um pintura ou então contemplando uma obra de arte por vários minutos, hipnotizados, aí, quando eu fui olhar, era um troço que pareciam ter feito de má vontade e ainda derramaram café em cima. Eu não entendo, sabe. Eu sou a pessoa que vai em museus e pensa "Ué, gente, um monte de móvel velho? Quem vai querer ver isso?". Tenho toda uma birra com museus e galerias de arte em geral porque acho que eles não se esforçam o suficiente para entreter o público, como fazem por exemplo um cinema ou, sei lá, uma vitrine de shopping. Eu deveria ir preso só por publicar essas opiniões, né.

Aí meu marido comentou que queria passar nossas férias numa cidade cheia de museus.


Belo Horizonte foi a escolha óbvia por vários motivos: 1) É uma cidade muito bonita, e eu e Arthur temos esse desejo de conhecer cidades bonitas 2) É perto do Rio de Janeiro, onde a gente mora, então é um lugar que nosso orçamento de férias alcança 3) Belo Horizonte era alvo desse comentário MARAVILHOSO que a gente encontrou num blog de viagem que publicou sobre o que fazer na cidade:

Transcrição do comentário do Gleyson: "A pior capital para se visitar,nada que realmente seja interessante, geografia péssima,onde faz de uma caminhadinha uma experiência aflita O que salva é a culinária, mesmo assim sabendo garimpar, transito caótico,motoristas ruim de roda,parece nunca ter frequentado uma auto escola"


Transcrição do comentário do Gleyson: "Moda cafona, a falsidade das pessoas parece ser o carro chefe, onde vc esta num roda de amigos, virou as costas pra ir ao banheiro vc vira o assunto… Ponto turístico principal uma lagoa, ou seja um esgoto a céu aberto, impossível ficar perto em alguns pontos, não se tem uma ciclovia que preste, transporte publico é uma vergonha,metrô nem se fala, melhor seria não ter de tão insignificante queé a linha…resumindo, não perca seu tempo e dinheiro vindo a bh"


Transcrição do comentário do Gleyson: "De Belo, o Horizonte não tem nada, a diversão é apenas bar, bar,bar,bar,bar e mais bar, se vc não é um alcoolatra, ai que fica sem opção de oq fazer mesmo". Abaixo, Larissa responde: "Gente???"

Gente, eu juro por tudo que é mais sagrado, eu CHOREI DE RIR lendo esse comentário, estou falando literalmente de LÁGRIMAS ESCORRENDO pela minha cara. FOI NO BANHEIRO VIROU ASSUNTO. A LAGOA É UM ESGOTO A CÉU ABERTO. MODA CAFONA. O que encerra com chave de ouro é o completo choque da dona do post que nem tem o que responder diante de tanta loucura: "Gente???".

A GENTE PRECISAVA IR PRA BH!!! E fomos. Deus abençoe Gleyson.

Abençoada seja também Larissa Vida Cigana, pois o post dela nos guiou dia e noite na cidade. Éramos nós quatro pra cima e pra baixo: Eu, Arthur, Gleyson e Vida Cigana. Qualquer mínimo morro que a gente subia, um de nós dois falava "Meu Deus, que experiência aflita". Cada Uber que a gente pegava, ficávamos na expectativa de ser ruim de roda ou do trânsito ser caótico. Todas as pessoas foram extremamente gentis com a gente O TEMPO TODO, mas graça ao Gleyson comentarista de portal sabíamos que a falsidade é o carro chefe do pessoal de BH, devia estar todo mundo falando da gente quando íamos ao banheiro. Tudo que dava errado, eu ficava "Gente???". Ai, que delícia de viagem.

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O Gleyson deve ter um desafeto com museus muito maior do que o meu pra dizer que Belo Horizonte só tem bar, porque, gente, VÁRIOS MUSEUS. Ficamos lá cinco dias e dava para sortear em qual museu a gente queria ir. Eu poderia falar de todos aqui, mas sinceramente? Se você quer um roteiro de viagem sério, vá lá ler o blog da Vida Cigana, aqui eu só venho com a farofa. Então: O PIOR E O MELHOR MUSEU DE BH!!!

O PIOR MUSEU: Casa Kubitschek. É a casa em que o ex-presidente morou. Fica às margens da Lagoa da Pampulha O ESGOTO A CEU ABERTO, e a casa em si é, bem, uma casa. É o que eu já falei sobre museus, sempre fico com a impressão de que eles não se esforçam para me entreter. Lá na Casa Kubitschek, por exemplo, os cômodos estão lá de pé, legal, há meia dúzia de móveis aqui e ali, você entra num quarto e tem uma cama, um guarda-roupa, uma cadeira antiga num canto e é isso. Legal. Tá bom, gente, mas cadê a história? O que o Juscelino Kubitschek fez naquele quarto? Quem dormia ali? Cadê as fofocas? Não tem? Nenhuma? Pelo amor de Deus, inventem. Falem que foi nesse quarto que, sei lá, alguém morreu. Que fulano traiu cicrana. Que o bebê beltrano nasceu. Arrumem essas histórias e colem nas paredes, ENTREGUEM AO PÚBLICO ALGO MAIS QUE UMA CADEIRA VELHA. A Casa Kubitschek poderia ser a casa de qualquer pessoa. Vá lá se você quiser ver uma casa.

O MELHOR MUSEU: De longe, o Inhotim. Ah, mas ele nem fica em Belo Horizonte. Mas esse texto é meu. Escreve o seu aí. O Inhotim de fato fica na cidade de Brumadinho, mas eu e Arthur fizemos um bate-volta que valeu super a pena. O próprio lugar se proclama um "museu a céu aberto", mas, sinceramente, eu acho que só gostei porque não lembra em nada um museu. É na verdade um imenso jardim com uma ou outra obra de arte aqui e ali. Por mim, tudo bem. Tem muita arte contemporânea, algumas delas interativas, a maioria belíssimas. Entre as belíssimas também conto o homem pelado ao vivo e a cores exposto numa das galerias, Deus abençoe. Mas são os jardins que realmente tornam o tour incrível. Flores, árvores, plantas de vários tipos. Apenas um milionário entediado para fazer do quintal dele um centro artístico, está de parabéns.





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Mas, no meio do caminho, uma exposição sobre a Nise da Silveira me impactou mais do que o pênis do moço no Inhotim. Para quem não sabe, como eu também não sabia, A Nise da Silveira era Deus. As religiões ao redor do mundo esse tempo todo completamente equivocadas. Gente, QUE MULHER. A Nise foi uma médica psiquiátrica que dedicou a vida todinha a humanizar o tratamento que os pacientes das alas psiquiátricas recebiam. Ela foi contra vários tipos de tratamento violentos lá pelas décadas de 50-70, tratamentos que hoje nós consideramos absurdos. As descrições são horrorosas. Mas a mulher não apenas tentou, ela foi lá e fez. Seria impossível resumir nesse texto tudo o que eu vi, mas até pra cadeia a Nise foi e lá dentro fez vários contatos que a ajudaram a expandir sua influência.

Numa das salas da exposição (vimos no CCBB da Praça da Liberdade!), vários quadros estavam sendo exibidos. Pois é, arte desse tipo que eu olho e fico "Ok, um quadro". Aquarela, óleo sobre tela, essas coisas. Eu não estava entendendo muita coisa, como sempre. Eram no geral pinturas retratando janelas coloridas e até aí tudo bem. Em algum lugar por lá estava escrito que a Nise pedia autorização para tirar alguns pacientes das alas e levar para o ateliê dela, para passarem o tempo pintando o que quisessem, uma espécie de terapia através da arte. O ateliê dela tinha um janelão, daí esse tanto de janela, a maioria dos pacientes pintava o que estavam vendo.


Lá estava o quadro do Emygdio de Barros, mais uma janela psicodélica, bem bonito até. Mas foi a notinha com uma fala da Nise ao lado do quadro que me quebrou:

"Eu o trouxe porque já faz dias que, quando vou buscar os outros que têm autorização, noto no canto do olho deste a vontade de vir também. Diante disso, baixei a cabeça. Saber ler no canto do olho de um esquizofrênico não é para qualquer pessoa, não. Nem psiquiatra, nem psicólogo, nem sábio de qualquer espécie. Em seguida, procurei o psiquiatra do Emygdio para dar uma satisfação da vinda dele para o meu ateliê. E ele me disse: – Se quiser autorização, eu dou, mas não adianta nada porque ele já está há 23 anos internado, em estado de decadência psicológica muito profunda, e não vai fazer nada que preste"

E daí o homem se transformou num dos gênios da pintura brasileira??? Gente, eu fiquei DESTRUÍDO. O quadro agora tinha todo um significado que eu não estava vendo antes. O quadro era praticamente um MILAGRE. O Emygdio de Barros internado há décadas, a galera tratando como se ele fosse uma pessoa sem valor nenhum, não dando nada por ele, só Deus sabe o que esse homem sofreu, pra chegar a Nise e dar uma chance. O quadro me deixou pensando tanta coisa! Imagina quanta gente talentosa deve existir por aí, mas NUNCA será descoberta. Imagina quantas pessoas só precisam de 1 chance, literalmente UMA, para revelar uma arte simplesmente necessária. A melhor escritora pode ser uma mulher que nunca publicou um livro. O melhor cantor pode ser um homem que nunca subiu num palco. A melhor bailarina é uma garota que nesse momento está trabalhando numa fábrica para levar comida para dentro de casa. O melhor comediante é um senhor muito feliz internado num hospital. É extremamente triste.

Em algum momento ali encarando o quadro do Emygdio, eu chorei.

Ainda não sei dizer se todo quadro tem uma história, mas às vezes eles dão com ela bem no meio da nossa cara.

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BH é uma cidade belíssima, recomendo.



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