Foi numa quinta-feira que a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa em home office aconteceu comigo: meu adaptador wi-fi USB queimou.

Meme da Mônica no computador, mas ao invés do famoso "ata" está escrito "Se vira, otária"

Sei que não parece, mas, além das profissões gay e escritor, eu também trabalho como analista de sistemas numa empresa de tecnologia. É na verdade o emprego que paga todas as minhas contas, já que escrever só me faz perder dinheiro. Ironicamente, a solução da Firma para eu poder trabalhar de casa quando a pandemia começou não foi me darem um notebook de última geração, mas, sim, me fazerem carregar UM PC DE MÉDIO PORTE até em casa. Achei que fosse piada quando me contaram, mas pisquei os olhos e lá estava eu num Uber equilibrando monitor, teclado e gabinete no colo. Isso e o adaptador wi-fi, que depois de um ano perdeu a vontade de viver, como todos nós.

Avisei meu chefe antes do adaptador pifar de vez, primeiro porque, se pifasse, eu não conseguiria mais trabalhar (Deus me livre usar meu 3G em prol da Firma, sou contra), segundo que eu estava pronto para sair para comprar um novo desde que meu chefe garantisse o reembolso. Ele garantiu! Então lá fui eu.

Gente, é impressionante como nada de bom acontece quando a gente sai de casa na pandemia. Não há mais felicidade no mundo exterior, apenas coronavírus. Esses dias vi um episódio de Solos (uma série que você não conhece porque é da Amazon Prime, a Record dos streamings) sobre uma mulher que não quer mais sair de casa mesmo com o fim de uma pandemia que já havia terminado há VINTE ANOS. Tenho certeza que ano que vem eu e essa mulher seremos a mesma pessoa. Mas enfim.

Personagem Sasha de SOLOS (Uzo Aduba) deitada num sofá lendo um livro dentro de uma casa de vidro cercada por uma floresta
Pra quê sair de casa se podemos ficar aqui dentro lendo pra sempre?

Comprei o adaptador numa loja aqui perto de casa, um modelo idêntico ao que eu tinha. Fui e voltei reclamando: do sol, de ter que andar, do desgoverno, de como a raça humana é completamente refém da internet e de que um dia os computadores vão se vingar de todos nós. Não demorou muito, na verdade, pois cheguei em casa e o adaptador não funcionou. Não conectava, não pegava rede.

Outro motivo que eu não comento muito ser um analista é que sou uma FARSA. Simplesmente odeio configurar coisas. Instalar programas, componentes, gadgets, devices... Prefiro a morte. Então quis entrar no caixão quando o adaptador se recusou a enxergar meu wi-fi. Tentei de tudo, principalmente chorar escorregando pela parede até o chão, mas foi o menos eficaz. Meu marido tentou ajudar e disse calmamente: deve estar com defeito, melhor ir lá trocar.

MEU DEUS, QUEM DIZ ISSO???? COMO ASSIM TROCAR SE EU ACABEI DE COMPRAR?

Foi uma tarde de muito sofrimento porque eu levantei mil argumentos de por que eu NÃO deveria ir lá incomodar o pessoal da loja com um problema que eu mesmo causei, mas Arthur me garantiu que eles trocam produtos o tempo todo e na grande maioria das vezes é um procedimento muito fácil. E que era isso ou eu mesmo pagar por um adaptador quebrado.

Tweet de @felipe_fgnds: "Acabei de passar por uma situação extremamente traumática: tive que voltar numa loja pra trocar produto que veio com defeito. Arthur não me deixou jogar fora e apenas fingir que nunca comprei"

Não sei dizer se é uma coisa da minha geração, mas eu odeio incomodar as pessoas. E trocar um produto numa loja é o mesmo que dizer para os vendedores "faça esse trabalho pra mim de graça e fique com um produto inútil que eu já abri, sua vadia".

Cheguei na loja mortificado, falei com a vendedora, mostrei a nota. Ela chamou a gerente, que me perguntou:

 Você tirou o lacre?
 Que lacre?
 Todos nossos produtos vem com lacre.

E, gente, realmente tudo na loja tinha lacre menos o adaptador que eu comprei. Eu não lembrava de ter tirado lacre nenhum, mas tinha certeza de que não tinha trocado o adaptador velho pelo novo, apesar de serem idênticos. ONDE estava meu lacre?

 Vamos ter que olhar nas câmeras então.

MINHA SENHORA, ME PRENDA AGORA, ME LEVE PRA CADEIA, É ISSO QUE A SENHORA QUER. Fiquei lá esperando, né, fazer o quê, minha sanidade mental completamente transformada numa sacolinha da C&A jogada ao vento. Já estava duvidando de mim mesmo, de repente ela ia olhar nas câmeras e descobrir que não apenas havia um lacre como também eu tinha cabelo moicano e me chamava Augusto.

Talvez fosse um teste, porque ela nem olhou nada. Vai ver desistiu, por todo o trabalho que ia dar procurar por um lacre minúsculo em horas e horas de vídeo pixelado. Saí da loja aliviado com meu adaptador novo LACRADO, mas com a mente em frangalhos.

Depois que a internet voltou a funcionar no meu computador, meu marido disse: Viu? Não disse que ia ser fácil?


Você tá feliz? Eu já estive mais.