Ester reclama que não tem nada de bom para assistir na TV depois de Diego assinar o quinto streaming para fazer a menina feliz. Diego pensa numa forma mais educada de dizer que tem gente que quer o cu e ainda quer raspado.

— Hoje em dia vocês crianças têm tudo de mão beijada, no meu tempo não era assim não.
— Não tinham inventado a televisão quando você nasceu?
— Tinham, né.
— Já existia sorvete?
— Já, Ester.
— As crianças tinham que trabalhar que nem adulto?
— Não…
— Hum.
— Criança via o que tava passando na TV, não podia escolher. Não existia wifi na casa das pessoas.
— Não é tão ruim assim.
— Nem pix! Ninguém fazia pix.
— Dá pra viver sem pix.
— Não tinha iFood, tá? A gente tinha que ligar pra pizzaria.
— Mas era você criança que ligava?
— Não…
— Podia ser pior então.
— …
— …
— Tinha rinha de criança.
— Hã?
— Isso mesmo. Cada família tinha que escolher um dos filhos pra lutar na arena, ninguém voltava.
— Mas como você e meu pai estão vivos então?
— Você nunca ouviu falar do seu tio Marcelino, né?
— Eu não tenho um tio Marcelino.
— Pois é, você tinha.
— E quem vencia ganhava o quê?
— Um saquinho de jujuba. Mas, assim que o Lula foi eleito, o PT achou melhor só vender no mercado mesmo. Mais prático, né.
— Meu Deus.
— Já te contei que se arrancava os dentes das crianças todos de uma vez? Já ia cair tudo mesmo, né.